[PRORROGADO!] CHAMADA PÚBLICA – DISCUSSÕES SOBRE PORNOGRAFIAS

A noção de sexo como regulador das experiências sociais e com diferentes realizações em cada coletividade, tempo e cultura é uma hipótese já estabelecida nas reflexões na grande área das ciências humanas e sociais. Desde as análises foucaultianas sobre a sexualidade como um dispositivo produtor de subjetividades, organizador de relações e veículo de constituição de regimes de governança e práticas de poder-saber, tem sido produzido um instrumental crítico-analítico-descritivo capaz de pensar os modos de produção de normalidade e as possibilidades de abordagem do sexo e da sexualidade como categorias polissêmicas e contingentes, em uma relação de contínua atualização histórica onde repetição e diferença se misturam e conferem sentido um ao outro. A partir dessa localização, o sexo assume o lugar controverso e produtor de disputas. O encontro entre corpos em economias possíveis, a produção de pessoas e subjetividades políticas que os modos de captura do sexo podem ser vislumbrados. É nesse instante de fruição do desejo que o ‘sexo’ encontra uma confluência de regimes de regulação que canalizam fluxos de sentido para organizar formas de classificação, hierarquização e tecnologias de descrição de subjetividades e corporalidades.
Com a função de atuar enquanto tecnologia de pedagogia na sexo-experência, a pornografia materializa esse campo através de suas imagens, imaginários e narrativas. E, sempre de foma controversa. Originalmente utilizada como instrumento de contestação, de crítica às autoridades religiosas e políticas, ao o final do séc. XVIII, a pornografia passa a ser instrumento de incitação e prazer sexual tanto por conta da popularização da escrita e das tecnologias de impressão quanto pela necessidade, ainda política, de demarcar as diferenças sexuais. No calor das reviravoltas sociais e culturais, causadas pelos movimentos revolucionários da época, os produtos pornográficos se ressignificam, passando a ter o perfil que ainda hoje reconhecemos, como produtores e propagadores de estereótipos de gênero e da sexualidade. Especialmente no âmbito das teorias feministas, a pornografia é tema de acalorados debates. Tida por algumas correntes como a mais cruel materialização das relações patriarcais responsável por incitar a à violência sexual e objetificação de mulheres; para outras teóricas, por sua vez, ela é vista como potencialmente empoderadora, capaz inclusive de ser uma valiosa ferramenta para a emancipação da sexualidade feminina. O surgimento de pornografias dissidentes, feministas, queer, ainda nos anos 1970, complexificam este debate, oferecendo outras chaves de significação e resistência, redirecionando as discussões sobre violência, autonômia de corpos e identidades.
Considerando a pertinência de pensar um amplo universo de práticas sexuais, a presente coletânea visa reunir trabalhos das mais diversas áreas de conhecimento (ciências humanas, sociais, história e geografia, literatura e linguagem, saúde e saberes psi, educação, entre outras) em torno das possibilidades metodológicas, analíticas, descritivas e políticas de se pensar a pornografia. Particularmente nos interessa trabalhos que problematizem a arena da produção de conhecimento sobre ou a partir das formas de experimentação da pornografia como um dispositivo em disputa de narrativas, imagens e imaginários. Diante desse empreendimento, as perguntas que nos provocam são: quais pessoas podem ser narradoras no debate sobre o sexo? Quais pessoas podem usufruir da sua sexualidade? Quais corpos despertam desejo, são possíveis de erotismo e tesão? Que visualidades são possíveis de ser construídas e degustadas em produções pornográficas? Como uma pedagogia sexual pode atravessar os corpos das pessoas que sempre tiveram negado o acesso ao protagonismo do próprio prazer? Quais eróticas e sexualidades podemos imaginar e criar?
Normas para apresentação dos manuscritos
A partir do calendário indicado abaixo, o primeiro passo é enviar para o e-mail indicado um resumo como manifestação de interesse, até o dia 18/08/2020. O resumo deve ter uma lauda, contendo título, fonte Times New Roman, tamanho 12, espaço simples e salvo em DOC, DOCX ou RTF. Os formatos dos textos podem contemplar as seguintes possibilidades: ensaios, artigos ou relatos de experiência.
Nesse resumo, esperamos a apresentação do futuro ensaio, artigo ou relato, o seu tema, objetivos, corpus da pesquisa, metodologia empregada e as principais questões a serem levantadas e discutidas. Em caso de aprovação da proposta, na primeira página do texto deve constar o título, nome das autorias, junto com endereço de e-mail e telefone para contato.
Nesta coletânea serão aceitos textos de 8 a 15 páginas, fonte Times New Roman, 12, espaçamento 1,5, margens de 3 cm. Figuras e ilustrações devem ter pelo menos 300dpi de resolução, e indicação de autoria. Serão aceitos textos, preferencialmente, produzido por mulheres e com até três co-autorias.
Referências:
citação indireta: (Deleuze, 2009), ou, …conforme Deleuze (2009)…
citação direta: (Deleuze, 2009, p.30) – se maior de três linhas ajustar com recuo de 3 cm sem aspas.
Deleuze, Giles. Sacher Masoch: o frio e o cruel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.
Critérios de seleção e prazos
A seleção dos trabalhos adotará como princípio os seguintes critérios de avaliação:
Atenção ao interesse temático das propostas frente à chamada do edital público;
A qualidade argumentativa e a criatividade temática na condução dos textos;
Distribuição regional de autoriase autores de modo a garantir uma ampla representatividade regional conforme as propostas recebidas;
O volume de trabalhos selecionados não será predeterminado, ainda que a editora se reserve ao direito de cancelamento do projeto caso as propostas encaminhadas não sejam suficientes para compor a obra ou não atendam aos critérios de avaliação.
O resultado preliminar dos trabalhos selecionados para compor a coletânea será comunicado através do e-mail.
Cronograma
Manifestação de interesse (envio do resumo): 20/08/2020
Triagem pelas organizadoras: setembro de 2020
Envio de parecer: primeira semana de outubro
Envio do texto final em formato DOC, DOCX ou RTF: 07/11/2020
Da comissão avaliadora
As propostas encaminhadas serão avaliadas pelos responsáveis pela organização da obra, Léa Santana (Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo – PPGNEIM/UFBA), Luana Souza (Doutoranda em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP) e Thais Faria Castro (Doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco). As pesquisadoras coordenam a linha de pesquisa Lesbianidades, Interseccionalidades e Feminismos no Núcleo de Cultura e Sexualidade (NuCuS/UFBA). Quaisquer dúvidas podem ser encaminhadas para os e-mails publicacoes@editoradevires.com.brfeministaspornografias@gmail.com.

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