PRORROGADO! EDITAL: PSICOLOGIA E DISSIDÊNCIAS SEXUAIS E DE GÊNERO: FUNDAMENTOS TEÓRICOS E PRÁTICAS EMANCIPATÓRIAS

Nova data para envio dos capítulos: 28/07/2021

Historicamente as ciências psi (psiquiatria, psicanálise e psicologia) têm problematizado as identidades, experiências e vivências não-heterossexuais. É possível, inclusive, pensar a atuação da psicanálise e psicologia marcadas por silenciamentos e/ou patologização, embora, principalmente nas últimas décadas, tenhamos presenciado, também, transformações importantes, no sentido de intervenções que promovam cidadania e os direitos humanos.

Não raro temos relatos de profissionais psi que têm atitudes violadoras dos direitos humanos ou não condizentes com uma psicologia emancipadora e que promova melhores condições de vida, entre tais atitudes, listamos:

  1. proposições de cura ou conversão das identidades não-heterossexuais;
  2. postura acrítica à solicitação de demandantes/pacientes ou clientes para abandonarem com ajuda terapêutica, vivências não condizentes com as normas de gênero ou orientação sexual;
  3. compreensão de que o sofrimento de pessoas LGBT é algo intrínseco e naturalizado decorrente das identidades e não de vivências socialmente estigmatizadas;
  4. compreensão de vivências não-heterossexuais, sobretudo à bissexualidade como indecisão, moda ou fase temporária que deverá ser superada pela assunção à heterossexualidade;
  5. não-reconhecimento do sofrimento psíquico de LGBTs e outros grupos subalternizados;
  6. técnicas terapêuticas supostamente neutras que ignoram as condições sociais de existência e que não assumem um compromisso ético-político;
  7. adesão a teorias e concepções naturalistas que pressupõem a existência de um sujeito essencializado e universal, pensado a partir do binarismo de sexo e gênero, no qual a experiência cis-heterossexual é tomada como modelo de normalidade e desenvolvimento esperado;
  8. ausência de cuidado no sentido de evitar que as violências sociais (transfobia, LGBTfobia e racismo) que ocorrem fora do espaço terapêutico não se repitam nas práticas psi;
  9. ausência de questionamento das normas e das concepções que atribuem a determinadas identidades e vivências um status de naturalidade e normalidade, e que postos ao centro, tais modos hierarquizam as experiências divergentes e patologizam a diferença.

Sem a pretensão de listar todos os modos pelos quais as práticas psi ignoram ou reiteram as violências às identidades e/ou vivências dissidentes das normas, uma que vez que são múltiplas e plásticas, apontamos aqui alguns desses modos, talvez mais presentes, ainda hoje, embora precisemos ressaltar a importâncias de diversos autores que têm postulado uma nova forma de saber/fazer, mais seguro para as dissidências sexuais e de gênero nas práticas psi. Seguro aqui, usado no sentido de evitar que as práticas psi não reiterem ou reproduzam nos espaços clínicos as violências e estigmas sociais fora dele (POLVEREL, 2016).

Importante ressaltar o esforço institucional dos Conselhos de Psicologia no sentido de normatizar através de resoluções as práticas psi no sentido de evitar que violentem e estigmatizem a população LGBT, seja através da resolução 01/99 ou da 01/2018 que vedam atitudes patologizantes com homossexuais e pessoas trans, respectivamente.

Ainda que tais resoluções sejam importantes e devamos lutar pelo seu fortalecimento, já que foram e são alvos de ataques, é importante apontar a lacuna nos currículos da formação em psicologia, em que questões de sexualidade e gênero, quase sempre são propostas por esforços de determinadas/os professores, de modo personalista, como aponta (LIONCIO, 2019).

É por esse motivo que a Editora Devires propõe essa coletânea, com o objetivo de instrumentalizar conceitualmente a discussão sobre as dissidências sexuais e de gênero no campo da psicologia e pretende, assim, publicar artigos que:

  1. apontem concepções importantes, de outras áreas do saber, como estudos de gênero, antropologia, sociologia etc., e que possam ampliar as discussões às práticas psi, ao promover um debate interdisciplinar que enriqueça a atuação profissional;
  2. evidenciem conceitos/concepções amplamente usadas na psicologia e que reiterem a patologização das dissidências sexuais e de gênero e que apontem para formas de superação de tais noções;
  3. apresentem e discutam experiências no acolhimento às diferenças (relato de experiência).

Importante ressaltar que essa publicação tem como objetivo principal instrumentalizar a FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA, para uma atuação pautada nos direitos humanos e na melhoria da qualidade de vida das pessoas, respeitando as diferenças e singularidades.

 Normas para apresentação dos manuscritos

Os textos podem ser submetidos em formato DOC, DOCX ou RTF até 05 de julho de 2021

através do e-mail psicologiadasdissidencias@editoradevires.com.br com cópia para publicacoes@editoradevires.com.br

Na primeira página do texto deve constar o título, nome das/os autoras/es (até 3 por artigo) junto com biografia resumida de três linhas, endereço de e-mail e telefone para contato.

Os textos devem ter entre 10 e 16 laudas.

A formatação deve seguir assim: fonte Times New Roman, 12, espaçamento 1,5, margens de 3 cm. Notas de rodapé: fonte Times New Roman, 10, espaçamento simples. Todo o texto deve usar alinhamento justificado, incluir resumo e três palavras-chave. Quando o texto possuir imagens será necessário que as fontes sejam citadas e que estejam devidamente autorizadas (caso retratem pessoas que compuseram ou não a pesquisa ou que não sejam de domínio público). As imagens deverão estar em alta resolução e em preto e branco.

Referências:

– Notas de rodapé são aceitas desde que sejam fundamentais para a compreensão do texto, não podendo exceder cinco linhas;

– Citação indireta: (DELEUZE, 2009), ou, …conforme Deleuze (2009)…

  • Citação direta: “entre aspas” (DELEUZE, 2009, p.30) – com no máximo três linhas, sem possibilidade de citação com recuo;
  • As referências devem vir em nota de rodapé, conforme as normas ABNT, como: MIGNOLO, Walter. Trayectorias de re-existencia: ensayos em torno de la colonialidade/decolonialidad del saber, el sentir y el creer. Bogotá: Universidad Distrital Francisco José de Caldas, 2015.

 Critérios de seleção e prazos

A seleção dos trabalhos adotará como princípio os seguintes critérios de avaliação:

  • Atenção ao interesse temático das propostas frente à chamada do edital público;
  • A qualidade argumentativa e a criatividade temática na condução dos textos;
  • Distribuição regional de autoras e autores de modo a garantir uma ampla representatividade regional conforme as propostas recebidas;

O volume de trabalhos selecionados não será predeterminado, ainda que a editora se reserve ao direito de cancelamento do projeto caso as propostas encaminhadas não sejam suficientes para compor a obra ou não atendam aos critérios de avaliação. 50% do livro será composto por textos selecionados a partir deste edital e 50% por textos de autoras/es convidados.

O resultado preliminar dos trabalhos selecionados para compor a coletânea será comunicado através do e-mail com a aprovação ou pedido de correções até dia 05 de setembro de 2021. Os trabalhos que demandarem algum tipo de correção e/ou ajuste deverão ser entregues pelas/os autoras/es 20 dias após as solicitação de revisão. Aos autores e autoras contemplados não incorrerá ônus para o custeio da obra, lhes sendo garantida também a cessão de até dois exemplares gratuitamente, além do direito autoral sobre seus próprios textos.

 Da comissão avaliadora

As propostas encaminhadas serão avaliadas pelo organizador e eventualmente por pareceristas do Conselho Editorial e ou convidades com mestrado ou doutorado em psicologia.

Sobre o organizador

Gilmaro Nogueira é psicólogo, doutorando em Cultura e Sociedade, docente do curso de psicologia e pesquisador sobre questões ligadas à sexualidade e gênero.

Salvador, 18 de maio de 2020

 

REFERÊNCIAS

CFP. Resolução 01/1999. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/1999/03/resolucao1999_1.pdf Acesso em: 01 Jul. 2019.

________Resolução 01/2018. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2018/01/resolucao_cfp_01_2018.pdf Aceso em: 02 Jul. 2019.

LIONCIO, Tatiana. A Psicologia entre a patologização e a despatologização das identidades trans. In: DE SOUSA, Ematuir Teles; AMARAL, Marília dos Santos; DOS SANTOS, Daniel Kerry (organizadores). Psicologia, travestilidades e transexualidades: compromissos éticopolíticos da despatologização.  Florianópolis: Tribo da Ilha, 2019.

SANTOS, Beatriz; POLVEREL, Elsa (2016) Procura-se psicanalista segurx. Uma conversa sobre normatividade e escuta analítica. Lacuna: uma revista de psicanálise, São Paulo, n. -1, p. 3, 2016. Disponível em: <https://revistalacuna.com/2016/05/22/normatividade-e-escuta-analitica/>. Acesso em 4 Jul 2019

 

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